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Skate, olimpíadas e a uniformização da contracultura.

  • Foto do escritor: Gabriel Matta
    Gabriel Matta
  • 1 de abr. de 2020
  • 3 min de leitura

Em 2016 o Comitê Olímpico Internacional anunciou o skate como uma das 5 novas modalidades do programa olímpico de 2020. Além do skate foram inclusas também as modalidades surf, karatê, escalada e beisebol. Essa notícia dividiu a opinião de diversos atletas, praticantes e entusiastas. Muitos acreditam que a participação do skate nos jogos olímpicos é uma oportunidade para expansão dos horizontes da modalidade. Outros entendem que isso seria uma subversão da essência do skate e que o skate como esporte olímpico seria mais um passo para a total esportivização da prática.


Ilustração por David Andrés López, via Thrasher Magazine

Uma das características mais fascinantes do skate é que ele pode significar e ser coisas totalmente distintas a depender da abordagem de cada indivíduo. Sempre houveram diferentes vertentes de skate, seja ela mais voltada para o aspecto competitivo, como estilo de vida ou pura e simplesmente pela diversão e o prazer de andar de skate. Todas coexistem e continuam sendo skate goste você ou não.

De fato houveram episódios que colocaram em cheque a decisão de apoiar ou não a inserção do skate nas olimpíadas de Tóquio. O primeiro e mais absurdo deles se deu em Janeiro de 2017, quando a Confederação Brasileira de Esporte e Patins (CBHP) foi nomeada responsável por gerir o ciclo olímpico do skate (?!?!?). O ocorrido gerou grande revolta na comunidade do skate e providências foram tomadas e em Dezembro do mesmo ano o Comitê Olímpico Brasileiro oficializou a Confederação Brasileira de Skate (CBSk) como responsável pelo papel antes empregado à CBHP. Skate é algo tão amplo e complexo que se torna um insulto delegar a responsabilidade de gerí-lo à uma entidade que se quer usa seu nome em seu título.

Mais recentemente houve também muita polêmica quanto aos uniformes que serão utilizados pelo Time Brasil na competição de Tóquio. Este assunto se torna especialmente delicado, pois a simples ideia de vestir um uniforme para andar de skate gera aversão a muitos skatistas. Entretanto acredito que skate vai além do que se veste, a personalidade de um skatista deve ser expressada fundamentalmente pelas suas manobras e não pela camiseta que usa.


Divulgação/Nike, via CBSk.

Ninguém parece questionar porque Pedro Barros usaria uma camisa da Volcom enquanto compete, e não deveriam. Volcom é uma de suas patrocinadoras, de certa forma ele trabalha para aquela empresa assim como qualquer outro funcionário. Infelizmente poucos de nós conseguem trabalhar andando de skate, mas essa é a realidade dele e deve-se respeitar isso. O fato de se permitir usar uma camisa de patrocinador durante uma competição não muda o que o skate significa para quem a está vestindo. O que quero deixar claro é que estando ou não nas olimpíadas os atletas que competem já usam um uniforme, a única diferença é que agora ele diz Brasil.

Então devemos aceitar o uniforme que foi imposto e concordar com isso? Definitivamente não! Apesar da admirável iniciativa quanto à sustentabilidade na produção das peças, o design do uniforme reforça um esteriótipo internacional de que o Brazil se resume ao Rio de Janeiro. Entretanto, uma abordagem combativa talvez não seja a mais efetiva. O que deve ser feito é exigir mais representatividade e participação da comunidade na elaboração das peças de forma que possam transmitir o que significa o skate brasileiro.


Afinal, skate nas olimpíadas é benéfico ou não?

Só teremos a resposta correta para essa pergunta após a realização dos jogos. Entretanto podemos fazer uma projeção baseado em experiências anteriores. Muitos de nós começamos a andar de skate porque vimos alguém andando e aquilo nos despertou interesse e curiosidade. Os Jogos Olímpicos são a maior competição esportiva de todo o planeta, contempla dezenas de países e é acompanhada de perto pelos veículos de mídia. Somado à esses fatores temos ainda alguns dos melhores skatistas do mundo, seja no park ou no street o Brasil tem chances reais de medalha e destaque.

Dito isso, imagine quantos meninos e meninas estarão acompanhando os jogos e em quantos deles surgirá a mesma curiosidade e interesse que um dia surgiu em nós. Calcule agora multiplicação de novos skatistas, novas pessoas que irão até uma skate shop e comprarão seu primeiro skate. Que fomentarão o mercado e futuramente estarão dispostas a batalhar por melhores condições para prática e desenvolvimento do skate. Talvez eles tenham conhecido o skate através da competição mas isso não quer dizer que o skate significará isso para eles. O skate será pra eles o que é pra todos nós uma forma de se divertir e se expressar.

O skate não muda com sua inserção nos jogos olímpicos, ele simplesmente ganha uma nova perspectiva. O skate que você um dia conheceu não morreu, apenas cresceu.



 
 
 

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